[Caricatura publicada no London Evening Standard]
A crise que esmagou os portugueses
realçou a capacidade, aparentemente genética, que todos temos para
enfrentar as partidas que o destino nos prega. Mais. Perante a
opinião internacional, arriscamos-nos a ficar conhecidos como
verdadeiros fazedores de milagres. Se isso é bom ou mau, o futuro o há-de dizer.
Por ora, acreditar que é possível, quando quase todos os
outros já baixaram os braços, parece ser o caminho para conquistar
o respeito de quem nos olha com desconfiança. Para o bem ou para o
mal, "cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas", como canta
Sérgio Godinho em “O coro das velhas”.
“Com esta da austeridade, meu senhor,
nem sequer dá para ir desta para melhor, os funerais estão por um
preço do outro mundo, dá para desistir de ser um moribundo”, lá
diz a velha Adozinha, do alto dos seus 84 anos. É assim em Portugal
mas, em terras de Sua Majestade, a música é outra.
“Quais são os principais produtos
portugueses exportados para o Reino Unido? Vinho do Porto e Madeira.
Rolhas. Peles, artigos de couro e sapatos. Capacetes. Sardinha em
lata. Catarina de Bragança. Treinadores de futebol e presidentes de
bancos?”, pergunta Nick Goodway, jornalista do London Evening
Standard.
A resposta é... sim. Tudo isso e, se
houver quem compre, mais qualquer coisa, a não ser que sejam quadros
de um catalão surrealista chamado Miró.
Vem esta reflexão a propósito do
milagre que o português Horta-Osório fez no Lloyds Bank.
Nick Goodway destaca o trabalho do
banqueiro luso que, em apenas três anos, conseguiu pôr na ordem o
banco britânico e livrar os ingleses de terem de desembolsar 20 mil
milhões de libras para o resgatar da bancarrota.
Eleito, em Julho de 2013, como o Melhor
Banqueiro do Mundo, Horta-Osório levou o Lloyds a fechar o último
ano com lucros de 6,20 mil milhões, duas vezes o valor obtido no ano
anterior e bem acima das previsões dos analistas.
“Um dia a História poderá dar-lhe
um lugar equivalente ao do treinador do Chelsea. Mas alguma vez lhe
passará pela cabeça autoproclamar-se «the special one»? Duvido
muito. Horta-Osório é demasiado modesto para isso”, escreve
Goodway, reconhecendo-lhe, porém, total direito a ostentar tal
título.
“Talvez, como aconteceu com José
Mourinho nos primeiros tempos de Chelsea, António Horta-Osório
tenha sido apenas o português certo no lugar certo no momento
certo”, conclui o jornalista.
O redactor do London Evening Standard
sublinha que o português assumiu um desafio de alto risco ao aceitar
a missão de tentar recuperar uma instituição que fora a mais
respeitada no Reino Unido mas que estava a passar por dificuldades
tremendas, às portas de ter de receber uma injecção de liquidez do
Banco de Inglaterra.
Na opinião do jornalista, o sucesso
alcançado por Horta-Osório – e o “caldinho” a que poupou os
contribuintes ingleses – é merecedor de uma dívida de gratidão
britânica.
Falando de coisas sérias, por cá, em
terras lusas, se não se importarem, estamos dispostos a aceitar o
pagamento imediato de tal crédito e, se possível, em libras
esterlinas, please!
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