sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Horta de milagres graças ao “special one” da banca

[Caricatura publicada no London Evening Standard]

A crise que esmagou os portugueses realçou a capacidade, aparentemente genética, que todos temos para enfrentar as partidas que o destino nos prega. Mais. Perante a opinião internacional, arriscamos-nos a ficar conhecidos como verdadeiros fazedores de milagres. Se isso é bom ou mau, o futuro o há-de dizer. 

Por ora, acreditar que é possível, quando quase todos os outros já baixaram os braços, parece ser o caminho para conquistar o respeito de quem nos olha com desconfiança. Para o bem ou para o mal, "cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas", como canta Sérgio Godinho em “O coro das velhas”.

“Com esta da austeridade, meu senhor, nem sequer dá para ir desta para melhor, os funerais estão por um preço do outro mundo, dá para desistir de ser um moribundo”, lá diz a velha Adozinha, do alto dos seus 84 anos. É assim em Portugal mas, em terras de Sua Majestade, a música é outra.

“Quais são os principais produtos portugueses exportados para o Reino Unido? Vinho do Porto e Madeira. Rolhas. Peles, artigos de couro e sapatos. Capacetes. Sardinha em lata. Catarina de Bragança. Treinadores de futebol e presidentes de bancos?”, pergunta Nick Goodway, jornalista do London Evening Standard.

A resposta é... sim. Tudo isso e, se houver quem compre, mais qualquer coisa, a não ser que sejam quadros de um catalão surrealista chamado Miró.

Vem esta reflexão a propósito do milagre que o português Horta-Osório fez no Lloyds Bank.

Nick Goodway destaca o trabalho do banqueiro luso que, em apenas três anos, conseguiu pôr na ordem o banco britânico e livrar os ingleses de terem de desembolsar 20 mil milhões de libras para o resgatar da bancarrota.

Eleito, em Julho de 2013, como o Melhor Banqueiro do Mundo, Horta-Osório levou o Lloyds a fechar o último ano com lucros de 6,20 mil milhões, duas vezes o valor obtido no ano anterior e bem acima das previsões dos analistas.

“Um dia a História poderá dar-lhe um lugar equivalente ao do treinador do Chelsea. Mas alguma vez lhe passará pela cabeça autoproclamar-se «the special one»? Duvido muito. Horta-Osório é demasiado modesto para isso”, escreve Goodway, reconhecendo-lhe, porém, total direito a ostentar tal título.

“Talvez, como aconteceu com José Mourinho nos primeiros tempos de Chelsea, António Horta-Osório tenha sido apenas o português certo no lugar certo no momento certo”, conclui o jornalista.

O redactor do London Evening Standard sublinha que o português assumiu um desafio de alto risco ao aceitar a missão de tentar recuperar uma instituição que fora a mais respeitada no Reino Unido mas que estava a passar por dificuldades tremendas, às portas de ter de receber uma injecção de liquidez do Banco de Inglaterra.

Na opinião do jornalista, o sucesso alcançado por Horta-Osório – e o “caldinho” a que poupou os contribuintes ingleses – é merecedor de uma dívida de gratidão britânica.


Falando de coisas sérias, por cá, em terras lusas, se não se importarem, estamos dispostos a aceitar o pagamento imediato de tal crédito e, se possível, em libras esterlinas, please!

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